sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

O Brasil, as cotas e o atestado de incompetência

Teoricamente, o Brasil tem como princípio básico, expresso na sua Carta Magna, a igualdade entre todos. O artigo 5º nos deixa claro que “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”. Entretanto, para consertar uma dívida histórica e impagável com determinados setores da sociedade, o Governo Federal cria agora a política de cotas, que reserva vagas em universidades públicas para os estudantes das escolas também públicas. Esta prática, entretanto, só nos revela a frustrada tentativa do governo em “Tapar o sol com a peneira”, fazendo um “armengue” no seu falido sistema público de ensino. Para que mudar o método, investir mais em escolas e capacitar melhor os professores se dá pra mascarar a realidade das escolas públicas? Dá trabalho, ora.

E assim o governo criou o sistema de cotas. Uma medida louvável do ponto de vista social, mas totalmente incoerente do ponto de vista educacional. O governo não está fazendo nada mais que assinar o seu próprio “Atestado de Incompetência”, dizer que não pode (ou não quer) mudar a realidade do ensino. Estamos ferindo o artigo 5. Estamos indo contra os nossos princípios. Nós fizemos a dívida? Não. Nós pagamos a dívida? Sim. O governo não pagaria o pato. Empurrou para aqueles estudantes das escolas particulares a responsabilidade de pagar as dívidas.

Engana-se quem pensa que os estudantes de escolas particulares são filhos da burguesia e da elite, como querem fazer pensar os governantes. Por trás dos estudantes de escolas particulares, encontramos vidas sofridas, encontramos esforço dos pais que não querem entregar seus filhos a escolas mal estruturadas e com um ensino precário. Neste ponto, os professores de escolas públicas podem se sentir ofendidos. E, caros professores, se esta tese os ofendeu por dizer que o ensino público é inferior e supostamente duvidar do seu trabalho, para que cotas?

Entretanto, não podemos deixar de visualizar a questão do acesso dos menos favorecidos à universidade pública. Realmente, eles não competem em pé de igualdade com os estudantes da rede privada. Não há outra solução a não ser melhorar o ensino público, equiparar ao da escola particular e fazer uma disputa sadia e que premie, realmente, o mérito do estudante. Certamente, vai ocorrer o seguinte neste sistema: Alunos de escolas particulares que tirem notas mais altas no vestibular não vão entrar, mas alunos de escolas públicas que tiverem uma pontuação inferior irão ingressar na universidade. Enfim, qual o critério? Critério de merecimento ou critério social?

Um país que quer entrar no mundo dos desenvolvidos não pode cometer uma falha tão grave. Olhe para as potências econômicas e intelectuais do mundo e veja: Nelas, o ensino público é uma referência. Pais, mesmo que com boas condições financeiras, preferem colocar seus filhos na rede pública, pois o ensino não tem distinção. O processo, realmente, é demorado, mas é o caminho mais correto. Estruturemos a educação pública e no futuro teremos um país realmente mais justo.

Pais, estudantes e professores de escolas públicas, vejam que não se constrói uma igualdade com essa medida. É criada uma pseudo-igualdade, como um remédio que alivia a dor, mas não cura a doença. A medida não deve ser encarada como um prêmio, um benefício. Deve ser encarada como preocupante. É provável que o governo mantenha esse sistema, caia no comodismo e deixe as escolas públicas caindo aos pedaços. Estamos caminhando para isso. Não deixemos o “país do futuro” morrer numa falta gravíssima. Ensino público de qualidade sim, cotas não.

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